22 de Maio de 2017
Pele de tilápia: a nova promessa no tratamento de queimaduras
A pele de tilápia é a nova promessa no tratamento de
queimaduras. Desenvolvida no Ceará, a alternativa promete ser melhor e mais barata em relação à terapia
tradicional utilizada no Brasil.
O tratamento das queimaduras pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), na maioria dos serviços de queimados, é feito com pomada e
curativos feitos com gaze, que são trocados a cada dois ou três dias, conforme
a gravidade da ferida. Segundo Fábio Carramaschi, cirurgião plástico do
Hospital Albert Einstein, de São Paulo, a forma tradicional utilizada
atualmente envolve o uso de pomada de sulfadiazina de prata, que possui função
antimicrobiana.
Enquanto isso, em países como Argentina, Chile e
Uruguai, o tratamento é feito com pele humana ou pele animal. Segundo o
cirurgião plástico Marcelo Borges, coordenador do SOS Queimaduras e Feridas do
Hospital São Marcos, em Recife, idealizador do projeto, o tratamento
tradicional é relativamente caro, justamente por conta da quantidade de
material utilizado e das frequentes trocas de curativos, que também causam dor
e desconforto ao paciente, o que gera a necessidade de administrar analgésicos
e anestésicos, aumenta o trabalho da equipe e, consequentemente, os custos.
"Uma das coisas mais importantes do curativo com
tilápia é que na queimadura superficial, a de segundo grau, ela fica até o
final da cicatrização, algo em torno de dez dias, sem precisar trocar
diariamente", explica o coordenador.
Aplicação do curativo
As tilápias são retiradas do açude Castanhão, em
Jaguaribara, maior reservatório de água doce do Ceará, localizado a 260
quilômetros de Fortaleza. "As peles são lavadas no local de retirada com água
corrente pela própria equipe, colocadas em caixas isotérmicas e levadas para o
Banco de Pele na Universidade Federal do Ceará", explica Edmar Maciel,
cirurgião plástico coordenador da fase clínica em andamento no Instituto José
Frota (IJF).
Depois de passarem pela esterilização inicial, são
enviadas para São Paulo, ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
(Ipen) da Universidade de São Paulo (USP), onde passam por uma
radioesterilização, procedimento que elimina possíveis vírus e garante a
segurança do produto. Quando voltam para o banco de pele do estudo, após cerca
de 20 dias, as peles são refrigeradas, e podem ser utilizadas em até dois anos.
"A pele da tilápia, quando colocada, adere-se à pele 'tamponando' a ferida. Ela
causa um verdadeiro 'plastrão'", explica Maciel. Com isso ela evita a contaminação
do meio externo e que o paciente perca líquido e proteínas, causando
desidratação e prejudicando a cicatrização.
De acordo com o médico, o resultado tem sido
bastante positivo. "Até o momento não observamos nenhuma contraindicação. O que
estamos estudando são ajustes de pele, formas de colocação, melhor maneira de
dar maior conforto ao paciente", salienta.
Atualmente, o tratamento está disponível apenas para
feridos por queimaduras do Instituto José Frota (IJF), em Fortaleza e já foi testado em mais de 60 pacientes.
Fonte - Veja (www.veja.com.br)